terça-feira, 5 de abril de 2011

Testemunho da guerra colonial

Quando na aula de História e Geografia de Portugal falámos da guerra colonial, despertou-me logo a atenção, porque era um tema do qual eu já tinha ouvido falar na minha família, pois o meu avô paterno e os meus tios Álvaro e Paulo, estiveram na tão falada guerra. Na altura não dei muita importância mas agora, com o desenvolvimento do tema, tive curiosidade de saber como foi, uma vez que este é dos poucos assuntos que fazem parte da nossa história, onde ainda podemos encontrar testemunhos vivos. Por isso, achei muito interessante tentar saber mais, pelo que fiz uma entrevista ao meu tio Álvaro, que dos três é aquele que tem mais memórias e até fotografias sobre o tema.


A seguir, apresento a entrevista que realizei, com algumas ilustrações fotográficas, onde o meu tio é interveniente.

-Olá tio! Bom dia.


R:Bom dia Francisco.


-Em que ano foi para a tropa?


R: Fui no ano de 1966.


-Para onde foi?


R: Fui para o centro de recrutas de Vila Real e depois para Chaves.


-Em que ano foi para a guerra colonial?


R: Foi também em Setembro de 1966, depois de ter assentado praça.


-Quanto tempo demorou a viagem?


R: A viagem demorou 24 dias.


-Em que sitio esteve?


R: Estive em Moçambique.


-Que condições encontrou quando lá chegou?


R: As condições eram más, as barracas onde vivíamos eram muito velhas, as camas eram muito fracas, mas com o passar do tempo, habituamo-nos.

-O que comiam e como viviam?


R: Vivíamos em condições muito deficientes, a comíamos à base de conservas, e pão que nós próprios cozíamos num forno que havia na nossa base.


-Que tipo de tarefas tinham que fazer?

R: Tínhamos que guardar o quartel e quando íamos para o mato fazíamos vigias.

- Quando iam para a frente de combate o que faziam, e qual era o estado de espírito?


R: Contra atacávamos o inimigo e o estado de espírito era pensar que não nos acontecesse o pior, e sempre que regressávamos à base, para mim já era uma vitória.


-Chegou a perder algum amigo em combate?


R: Perdi três grandes amigos.

-Quando o tio estava de vigia tiveram algum ataque surpresa?


R: Não, nunca tivemos nenhum ataque surpresa.


- Quando iam para o mato, onde dormiam e como se abrigavam?


R: Em abrigos construídos por nós e dormíamos no chão, quando dormíamos, porque tínhamos que estar alerta.


-Durante o tempo que esteve lá, escrevia muitas vezes?


R: Nunca escrevi porque não tinha papel, apenas mandei um postal com a minha fotografia no primeiro Natal que passei lá, foi muito difícil.


-Os jornais e a rádio davam muitas notícias da guerra?


R: Não, porque nós não tínhamos acesso aos meios de comunicação.


-Qual era o armamento que utilizava, para combate e defesa?


R: Era a G.3.


-Acha que sofre de stress de guerra?


R: Felizmente acho que não.


-Como se chamava a sua companhia?


R: Companhia de caçadores 1797.


-Qual era o pelotão?


R: Era o 3º pelotão, 3º grupo de combate “o Rangers”.


-Quando regressou, encontrou algum familiar à sua espera?


R: Sim estava o meu irmão e a minha cunhada, foi um momento de grande emoção, onde agradeci a Deus por ter regressado, são e salvo.


-Obrigado tio, por me ter ajudado a perceber como era o dia a dia de um militar na guerra colonial.


Aqui ficam mais algumas fotografias que ilustram o dia a dia das nossa tropas nas ex-colónias:




E no fim de tudo isto, podemos mesmo afirmar que: houve amizades que se criaram e que o destino fez perder. Culturas aprendidas, que a vida fez esquecer. Mas, nas mentes daqueles que viveram tais histórias, essas, ficaram como que tatuadas nas suas próprias vidas.


Trabalho realizado por: Francisco Martins Rodrigues 6.º Ano, Turma C, n.º 8